Conar minimiza problema da obesidade infantil

 

Se você não viu o comportamento lamentável de um conselheiro do Conar com uma denúncia feita pelo Projeto Criança e Consumo, veja aqui. Se acompanhou pelo nosso blog e pelo noticiário, mais uma escorregada – pra não diz capote –  daquele que deveria zelar pela ética na publicidade: segundo o parecer, votado por unanimidade nas Primeira e Sétima Câmaras do Conselho de Ética do Conar e que engavetou denúncia contra campanha do McLanche Feliz, o problema da obesidade infantil não deve ser tratado como uma prioridade no Brasil. Segundo eles, tem questões mais urgentes para resolver.

Vamos aos fatos… Primeiramente, é de se pensar que o Conselho de Ética não anda se informando sobre o país. Em 2010, o tema da obesidade infantil foi manchete em diversos jornais por conta da publicação de dados do IBGE. A primeira pesquisa foi divulgada em julho e mostrava um aumento assustador de crianças de 5 a 9 anos com sobrepeso e obesidade: em 2008, uma em cada três crianças dessa idade apresentavam o problema.

Em dezembro, mais uma pesquisa do IBGE. Desta vez, mostrando que a refeição média do brasileiro tinha mudado bastante, de arroz, carne, feijão e salada para o consumo mais frequente de alimentos processados e com alto teor de açúcar, gorduras e sal . O impacto disso: Crescimento significativo de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, hipertensão e câncer.

O Conar ainda ignora o dado do Ministério da Saúde de que 30% das crianças brasileiras estão com sobrepeso e 15%  já estão obesas. Isso significa mais de 4 milhões de meninas e meninos obesos no país. O Conar acha que o número é irrelevante e assina embaixo de um parecer que refuta por completo a influência da publicidade nessa questão.

Não queremos que todos tenham a mesma opinião sobre que caminho tomar em busca de uma solução para o problema da obesidade infantil. Mas é no mínimo irresponsável desconsiderar a influência dos apelos mercadológicos nessa questão. 

É ainda mais grave o Conar se furtar de seu dever de fiscalizador da ética na publicidade e simplesmente ignorar o acordo de autorregulamentação firmado por empresas do setor alimentício com a ABIA e com a ABA. O relatório que arquiva a denúncia do Criança e Consumo contra o McDonald’s limita-se a dizer: “Tal documento não foi considerado pertinente pelo relator uma vez que o Conar dele não é signatário e, dessa forma, entende-se que a questão, neste foro, deve ser regida pelo Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária”.

É isso mesmo: O Conar não reconhece o acordo firmado pela ABIA e pela ABA com 24 grandes empresas de alimentos. Estranho, vindo de um organismo que se pretende defensor da ética e da autorregulamentação no setor publicitário.

Vamos, então à realidade:

Segundo o professor Doutor em Pediatria e Saúde Pública do Departamento de Saúde Materno Infantil da universidade Federal do Ceará, Almir de Castro Filho, apenas 25,2% das crianças entre 2 e 5 anos e 38,3% das crianças entre consomem frutas, legumes e verduras em sua dieta alimentar. Tal índice é alarmante, principalmente se for levado em conta que, na segunda faixa etária, 26,6% alegaram consumir balas, biscoitos recheados e outros doces de cinco a sete vezes por semana. 

De acordo com pesquisa divulgada no International Journal of Obesity em 2009, crianças que veem comerciais de alimentos e bebidas com carência de nutrientes e alto teor calórico escolhiam e comiam mais destes alimentos do que crianças que não foram expostas a essas mensagens. 

A mesma pesquisa publicada no International Journal of Obesity em 2009 também chegou à conclusão de que a limitação de anúncios publicitários dirigidos a crianças causaria redução de índices de massa corporal em torno de 400.000 em 2,4 milhões de crianças, o que teria como média uma redução de 0,17 por criança. Os gastos em saúde evitados com tal redução de anúncios publicitários atingiria nos Estados Unidos o valor de U$ 1.30.000,00.  

Pode-se citar, também, estudo realizado pela Universidade de Oxford em 2009, que afirma: a questão a ser estudada não é se a comunicação mercadológica leva a obesidade e sobrepeso infantis, e sim o quanto. De acordo com tal pesquisa, se a publicidade de alimentos veiculada na TV fosse reduzida de 80 minutos por semana a zero, crianças norte-americanas pesariam 2,1% menos do que a média atual. A obesidade seria reduzida de 17,8% para 15,2% entre meninos e de 15,9% para 13,5% para meninas.